Chapéus ... em poesia!

Não há guarda-chuva

contra o poema

subindo de regiões onde tudo é surpresa

como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva

contra o amor

que mastiga e cospe como qualquer boca,

que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva

contra o tédio:

o tédio das quatro paredes, das quatro

estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva

contra o mundo

cada dia devorado nos jornais

sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva

contra o tempo,

rio fluindo sob a casa, correnteza

carregando os dias, os cabelos.

Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa",

Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.

As fotos foram tiradas num "Verão Total"!

O GUARDA-CHUVA.

 FOLHAS AO VENTO 

De pano descolorido

julguei vê-lo suprimido

dum museu de antiguidades,

já não guardava mais nada

sua copa esburacada

só encobria saudades.

Guarda-chuva feminino

gracioso e pequenino

que já não guardas ninguém,

conta-me lá tua história,

de tudo que tens memória

e mais te agrade também.

E o guarda chuva falou:

Minha dona me estimou

como se eu alma tivesse.

Era lindo o meu cetim

e eu não estaria assim

se minha dona vivesse.

Mas a má sorte invejosa

de vê-la igual à rosa

não lhe deixou ter Outono.

A minha rosa caiu

e o tempo me destruiu

por viver ao abandono!

J.Barreto.